Depoimento de vítima de câncer cerebral que vive próxima a uma torre de celular


Relato de participante da Audiência Pública ocorrida no dia 26 de junho de 2014, na Câmara de Vereadores de Porto Alegre para debater PLE 57/13. Seu nome consta nos dados da Audiência e não é citado neste relato em respeito a sua necessidade, e direito, de repouso pós cirurgia.


“Boa noite!


Por que estamos aqui?


Entendo que estamos aqui para, prioritariamente, preservar o cidadão. E com este objetivo em mente, contamos com as mulheres e homens públicos, com os depoimentos dos cidadãos, com os fatos científicos, com a boa engenharia. Mas acima de tudo, contamos com o bom senso da legislação.


E é como cidadã que passo, então, a relatar a experiência marcante que vivi quando, em início de maio, tive o diagnóstico de um tumor cerebral no lobo temporal direito.


Cabe dizer que, na minha família, irmãos e pais, não há nenhuma ocorrência de tumores. Meu pai faleceu aos cem anos de idade e minha mãe aos 89 anos, ambos de causas naturais. Também, não sou nem nunca fui fumante, não bebo e mantenho atividade física regular três vezes por semana.


Por outro lado, também cabe declarar que moro a 95 m de uma estação de rádio-base, instalada em 2007 na Av. Cai entre o número 433 (onde funciona uma escola de tênis) e o número 355 (onde está localizado um edifício de apartamentos).

Sei que a comunidade científica está dividida com relação aos efeitos da radiação eletromagnética na faixa da radiofrequência.


Como sou física por formação, sempre me interessei por este tema. Sendo que, depois de meu diagnóstico, intensifiquei meus estudos sobre o efeito da radiação eletromagnética em células vivas.


O fato de a comunidade científica estar dividida reflete a complexidade do problema. Uma fundamentação experimental e seu consequente avanço teórico exigirão um trabalho longo, multidisciplinar, dispendioso, e uma grande dose de coordenação, integração e consolidação dos resultados.


Contudo, já há suficientes e concretos indícios na literatura científica que nos levam a permanecer alertas e ter precaução.


Aproveito para lançar um apelo: precisamos investigar com todo rigor científico o que está acontecendo com a torre da Av. Caí.


Há alguns anos atrás, um vizinho, morador da Av. Cai  próximo à torre, sabendo que sou física, me solicitou artigos científicos que relatassem a ocorrência de dificuldades para dormir, tonturas e outros mal-estares relacionados à vizinhança de uma antena.


Estes eram alguns dos desconfortos que este vizinho passara a sentir desde que a antena fora instalada. Como temos um serviço de guarita que é compartilhado por dezessete moradores, há uma grande interação na vizinhança. Em vista disso, chegou a meu conhecimento o relato de que outros moradores também estão passando por desconfortos desde que a antena foi ali instalada.


Acredito que estas informações devem subsidiar uma pesquisa bem maior, abrangendo o entorno das torres de rádio-base de Porto Alegre. Enquanto isso não acontece, nos resta, como cidadãos, o amparo de uma legislação coerente. Caso contrário, as companhias telefônicas serão as únicas que lucrarão.


E para nós, moradores próximos de uma torre de ERB fica o conselho: evite o uso de celular quando estiver em casa, pois neste caso temos duas antenas, uma na rádio-base e outra no próprio celular.


Explicando melhor: quando em nossas casas, usamos o telefone celular a radiação emitida pelo celular pode ter, relativamente, uma intensidade maior que a recebida da antena. Contudo, esta radiação só ocorre enquanto estamos falando ao celular, ao passo que a radiação vinda da antena é contínua, isto é, 24 h/dia.


Outro aspecto a ser considerado, é o seguinte: estando em sua casa, próximo a uma antena, o seu cérebro poderá atuar com uma barreira a ser atravessada pela radiação e neste caso a potencia se ajustrá para vencer esta barreira. O recomendável, nestas circunstancias é usar o ouvido que fica mais próximo da antena. Ou seja, evite que a cabeça seja o obstáculo a ser atravessado pela radiação eletromagnética, pois nesse caso, a eletrônica detecta a diminuição da intensidade da radiação e aumenta a potência emitida. Assim, tomemos a precaução de nos posicionar de tal forma que a cabeça não fique entre o celular e a rádio-base.


E para concluir: se alguém disser que eu não tenho provas concretas de que o tumor desenvolveu-se em consequência da proximidade de uma RB, posso refutar dizendo que também não há comprovação de que o tumor não foi devido à proximidade de uma RB.


É assim, que se encontram, atualmente, os resultados das pesquisas científicas.

 

Muito obrigada.

 

Porto Alegre, 26 de junho de 2014.