Torres sim, mas de rocha, não de concreto
No cenário de Torres situam-se minhas mais preciosas lembranças de infância e
adolescência. Nos anos 70 e 80, as únicas torres, e, portanto, as mais
imponentes, eram o Morro do Farol e as da Guarita. No entardecer, veranistas
reuniam-se no Hotel Farol para uma caipirinha, empadas de camarão ou um
cafezinho no mesmo balcão em que era vendido um pão d’água e ‘de minuto’ que
nunca vi igual em outro lugar. Circular de bicicleta com outras crianças, ou
mesmo sozinha, não implicava em temor nenhum. O Parque da Guarita ainda não
levava o nome do meu pai, mas era por ele valorizado e zelado, extasiando os
visitantes.
Sigo fiel a Torres, apesar dos impactos sofridos por conta do estímulo
desenfreado da construção civil que, em sua voracidade, já consumiu praticamente
todas as residências tradicionais e reduziu as torres naturais a “morrinhos”.
Quem hoje avista a cidade, vindo da BR 101 ou da Estrada do Mar, pode até pensar
que o nome é uma alusão aos seus prédios. E o prejuízo não é apenas ambiental,
estético e histórico: areia e mar sujos, congestionamentos, estabelecimentos
lotados, barulho, insegurança crescem na mesma proporção dos espigões. Agora,
como golpe fatal, soma-se a ameaça de liberar a construção destes nas primeiras
quadras, junto à praia.
Torres ainda é nossa mais bela praia e pode melhorar o que não está bem. Com um
planejamento urbano centrado na consolidação de uma cidade que reconhece seus
patrimônios ambientais, arquitetônicos e culturais e que oferece estrutura
adequada para o bem-viver, Torres preserva o que lhe resta e segue seu curso de
forma convidativa. Incluem-se aí: valorização de sua história, manutenção de
orla ensolarada e limpa, recuperação do Parque da Guarita, divulgação do Parque
de Itapeva, consolidação de boas praças, diversificação de estabelecimentos
comerciais e de lazer, bem como, de serviços médicos. Hoje há imobiliárias
demais e padarias de menos; psicólogos demais e apenas um dermatologista, que
também atende a municípios vizinhos.
Agora, se a ênfase seguir na construção predial, restará uma cidade sem
atrativos e incômoda. Sobrarão os que não se importam com nada além de seu
próprio umbigo e restará o luto daqueles que a conheceram em seu esplendor e
reconheceram o seu valor.
Lara Lutzenberger
Presidente
Fundação Gaia – Legado Lutzenberger