Cinco anos sem José Lutzenberger

 Lauro Eduardo Bacca*

 Publicado na pág. 2 do JORNAL DE SANTA CATARINA, Blumenau, 14/05/2007.

 

Em 14 de maio de 2002 falecia o polêmico e talvez maior e mais abrangente defensor do Meio Ambiente do Brasil, o gaúcho José Antônio Lutzenberger. Permaneceu incansável em sua luta até o fim, mesmo sofrendo com uma incômoda falta de ar nos últimos anos de sua vida. Dono de retórica tão eloqüente quanto contundente, foi o principal responsável pela disseminação da chamada consciência ecológica no Brasil. Extremamente culto e informado, era também um misto de filósofo, cientista, sábio e paisagista. Lia a maioria das obras e artigos de revistas no original, principalmente em inglês, alemão e espanhol.

Lutou, entre tantas outras batalhas, contra a disseminação do uso dos agrotóxicos, as usinas nucleares, a poda irracional das nossas árvores urbanas e a devastação generalizada de nossas matas e demais ecossistemas. Acima de tudo alertou para o perigo dos monopólios econômicos e a insustentabilidade de uma Economia baseada na necessidade de um crescimento ilimitado, num planeta reconhecidamente finito em seus recursos e espaço físico. Como palestrante de sucesso percorreu todo o Brasil e muitos outros países, para onde sempre era convidado.

Conseguiu falar alto sem ser silenciado em plena ditadura militar, talvez em função do seu grande prestígio no exterior. Praticamente não há cidade de maior importância em Santa Catarina onde Lutzenberger não tivesse proferido uma ou mais palestras, sempre diante de expressivo público. Há trinta anos já alertava para a desfiguração paisagística de Blumenau ou a ocupação irracional do litoral, Florianópolis inclusive. Ou para a morte dos oceanos, numa época em que poucos se preocupavam com isso.

Relendo o teor de uma de suas palestras, “Filosofia da Ecologia”, surpreendo-me com um texto de 1975, mas que parece ter sido escrito nos dias atuais!  Como Ministro do Meio Ambiente do Governo Collor, teve coragem de propor a proibição do corte da Mata Atlântica no Brasil e não alterou seu estilo de ser. Conta-se que certa vez, repentinamente, mandou parar seu carro oficial, dali saindo para dar uma “bronca” no jardineiro do Palácio do Planalto, que estava aplicando veneno contra formigas. Talvez por coisas como essas muitos passaram a enxergar mais um Lutzenberger excêntrico, quase folclórico, cegando-se lamentavelmente ao profundo e sério conteúdo de suas idéias. Passados mais de trinta anos, milhares de cientistas em coro e documentos da ONU, dão razão, finalmente, à sua maior advertência: a insustentabilidade do atual modelo de desenvolvimento econômico no planeta.

 

* O autor é biólogo ambientalista.

 

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