Cinco anos sem Lutzenberger


Christian Lavich Goldschmidt*

Publicado no Jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, em 14 de maio de 2007.

 

         Falar de Lutzenberger no quinto ano de seu falecimento pode parecer clichê. Num primeiro momento é como se tudo já tivesse sido dito ou escrito. Ledo engano, porém. Nem mesmo sua biografia de 510 páginas diz tudo a seu respeito, por mais fidedigna que seja. Com o passar dos anos vamos nos dando conta de que muita coisa ainda há para se analisar e discutir sobre sua vida, obra e pensamento. A sensibilidade de Lutzenberger em ver e perceber o mundo com um olhar diferenciado, por exemplo, ainda é algo desconhecido por muitos. São poucos também os que sabem que Lutz era um grande admirador das artes plásticas; e um de seus pintores favoritos era o Francês Claude-Oscar Monet (1840 – 1926). É fácil compreender a relação entre ambos, Monet era um apaixonado pela natureza, não só tema de várias de suas telas, como também uma das razões de sua existência - prova disso é o tempo que o artista dedicava para a jardinagem, em especial ao “jardim aquático” com a ponte japonesa e as ninféias, essas últimas, presente do amigo e colecionador japonês Hayashi.

 

          A admiração de Lutz por Monet era tanta que o mesmo não podia deixar de homenageá-lo. No Rincão Gaia, sede rural e paraíso ecológico de 30 hectares idealizado por Lutzenberger no interior do Rio Grande do Sul, o ecologista pôs em prática seus conhecimentos e criatividade artística. Diferentemente de Monet, que retratava a natureza em suas obras, Lutz inspirou-se nas pinturas do artista Francês para desenvolver um lindo projeto paisagístico – provavelmente Lutz valeu-se do “Lago dos Nenúfares”, de 1899. No Rincão o ecologista criou um belo jardim com dois pequenos lagos enriquecidos com plantas aquáticas, como junquinho, taboa, lótus e marrequinha. No entanto, não deixou de dar especial atenção as ninféias e à tão charmosa ponte. Quem conhece Monet e visita o Rincão Gaia, percebe logo algumas semelhanças entre as obras do artista e o paisagismo do ecologista gaúcho.

 

          Certa vez Monet declarou: “Com o passar do tempo, abri meus olhos e, então, compreendi verdadeiramente a natureza e aprendi a amá-la”. Quando lembro de Lutz neste dia 14 de maio, sinto que talvez seja a oportunidade ideal para nos inspirarmos, não nas obras de Monet, mas em seu pensamento, que traduz de forma simples as idéias de Lutzenberger. Monet morreu em 5 de dezembro de 1926. Doze dias depois, no dia 17, nascia o ambientalista gaúcho José Lutzenberger.

 

*Escritor e ator

 

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