Somos nós os Extraterrestres?

 

É evidente que a trajetória da humanidade está frente a um momento de necessária reflexão.

 

Se a ciência desmistificou e decodificou meticulosamente inúmeros mecanismos naturais do grandioso processo de evolução orgânica do nosso planeta, e conseguiu paulatinamente traduzi-los em tecnologias deslumbrantes que ampliam nossas condições de conforto e nossa capacidade de locomoção e colonização planetária; por outro lado, essa mesma genialidade veio acompanhada de um processo gradativo de desconexão do mundo natural e vem corroendo a base de nossa sustentação – a água, o ar, o solo e as espécies que coabitam o planeta conosco estão todos assustadoramente alterados e ameaçados. Cremo-nos seres superiores e como tais liberados para manipulação e usufruto irrestrito de tudo o que nos circunda.

 

É engraçado, adoramos fantasiar sobre possíveis seres extraterrestres – seres que viveriam em planetas e galáxias absurdamente distantes e desconhecidos e que eventualmente colonizariam nosso planeta, mas vindo de outra realidade e crendo-se mais evoluídos, ocasionariam uma infinita gama de distúrbios e desequilíbrios sócio-ambientais. Mas vejamos: desvinculados do mundo natural, encapsulados numa realidade cada vez mais virtual e artificial; não estamos nós mesmos assumido uma postura extraterrestre?

 

E agora? O que fazemos? Qual o desfecho dessa história?

Continuamos travando uma luta com os demais seres que coabitam conosco esse planeta encantador até sermos efetivamente expulsos para, quem sabe, conquistar galáxias inimaginavelmente mais distantes; ou retrocedemos um pouco, re-adotando uma atitude mais humilde, mais cooperativa, reconhecendo o divino em cada uma das diversas formas de Vida que compõem conosco a grande Comunidade Terrestre e que dão ao nosso planeta, Gaia, uma identidade e uma individualidade única no grande Cosmos?

Insistimos numa postura egoísta e indiferente, ou  reconhecemo-nos como simples manifestações distintas da mesma essência de Vida, que inclui o encanto do canto dos sabiás, a  complexidade social e estrutural de uma colméia, a arquitetura naturalmente sofisticada de um ninho de João-de-barros?

 

Para que a segunda opção se concretize, devemos rever nossa visão parcial e fragmentada de mundo a partir de uma compreensão sistêmica dos princípios ecológicos que regem Gaia. Precisamos buscar a alquimia certa entre o conhecimento racional e o saber intuitivo; suscitar emoções e promover ações que visem a preservação do todo que integramos.

Vamos realinhar-nos com os demais e deixar a conduta extraterréstrica restrita ao âmbito da fantasia!

 

Lara Lutzenberger

Presidente

 

Novembro de 2003

Artigo para Revista Conexão Social

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