Febre? EU?

 

Imagine o Saara coberto por extensas pastagens sombreadas por oliveiras carregadas de azeitonas bem gorduchas. Ou gado disputando pastos na Groenlândia!? Ou ainda, uma paisagem árida sobre os nossos campos sulinos? Loucura?? Hmmm... não é a primeira nem será a última vez que a realidade supera a melhor das ficções.  Nas páginas do álbum planetário há imagens milenares do Egito e da Groenlândia verdejantes e do nosso pampa vestido de estepe seca.  Alterações climáticas ocorrem de verdade, sim, e, o que é pior, ocorrem de forma súbita, sem grandes alardes prévios. Lembra do mamute mumificado na nevasca inesperada?

É verdade que em vantagem disparada em relação ao mamute, nós dispomos de um invejável arsenal de conhecimentos e ferramentas que nos permite perceber o rumo das coisas com certa definição! Conseguimos prever com vários dias de antecedência se teremos sol e se as temperaturas variarão entre 5 – 15°C. Em mãos de registros históricos e simulações computadorizadas podemos até conjeturar sobre as macro-tendências climáticas.

Pois é, mas justamente essa facilidade tem nos evidenciado sinais de que o clima está desgovernando-se, e, pior, em decorrência da direção equivocada que nós mesmos impomos ao planeta! E , agora? Que fazer para sair dessa em melhores condições que nosso finado mamute? 

Pois atrevo-me a dizer que o que precisamos é de uma boa pastilha de ‘sifragol’ com anti-térmico! Isso mesmo!! Precisamos adotar uma postura mais humilde e reduzir a febre por detrás da alucinação coletiva que se curva passivamente diante das maravilhas tecnológicas que reinventam o mundo, mas também o nocauteiam, criando efeitos nefastos sobre o equilíbrio planetário. 

Sob a égide de nossa arrogância e confusão febril, tendemos a privilegiar a criação de novas tecnologias de saneamento, ao invés de rever as primeiras em sua concepção e uso. Se o uso de CFCs criou o buraco de ozônio que queima nossa pele, criamos protetores solares; se os poluentes aumentam a incidência de câncer na população, inauguramos centros terapêuticos especializados; se falta chuva, bombardeamos nuvens até que elas se esvaeçam sobre nós; e, assim, vamos criando sempre novas tecnologias para enfrentar os impactos das anteriores.

Isso, até o dia em que o mundo nos congelará como ao mamute! Ah.., mas aí já teremos avançado na criotecnologia, que nos permitirá a ressurreição em tempos mais afáveis, não é mesmo?!

 

16 de março de 2005

 

Lara Lutzenberger

Fundação Gaia

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