Desenvolvimento Sustentável, muito prazer

 

Visões, idéias, conceitos, nascem, amadurecem e se consolidam culturalmente num processo que em nada se diferencia da dinâmica evolutiva do mundo natural. Primeiro um lampejo, um broto, um suspiro! Mais adiante um raio, uma mudinha, um rascunho que se esboça na linguagem de algumas tribos.

Um pouco mais além, já é um estrondo, uma jovem planta reprodutiva, uma expressão que soa bem de boca em boca. Até que chega a tempestade, cresce a floresta e a humanidade orienta seu pensamento por um novo paradigma. Passada a tempestade, rearranjam-se as paisagens recém lavadas e escovadas, às vezes escabeladas; na floresta, pipoca um número efervescente de espécies que barganha novos espaços edificados do solo ao dossel, e na não menos rica sociedade humana, o conceito disseminado carece de uma dissecação na sua multiplicidade de interpretações, se se quer identificar seu significado mais puro.

 

De expressão que melhor sintetizava as propostas elaboradas no 1° Encontro da ONU sobre Meio Ambiente em 1972, ‘Desenvolvimento Sustentável’ tornou-se o slogan ativista da Eco 92, incorporou o palavrear bonito dos discursos políticos, caiu na boca do povo e, claro, no percurso sofreu plásticas e remendos que o deixaram com a carinha bastante diferente daquela do berço.

 

A idéia era defender políticas embasadas em uma análise igualitária dos aspectos ambientais, sociais e econômicos que promovessem a melhoria das condições de vida, sem comprometer as gerações futuras. Na prática, não só super-valorizamos os aspectos econômicos, como também, sub-estimamos a dimensão ambiental, via de regra relegando a esta cuidados pontuais, quando possível, de áreas naturais evidentemente privilegiadas, ou o plantio de árvores urbanas, entre outras iniciativas do estilo.

 

O Furacão Katrina fez um corte raso na floresta econômica mais pujante, escancarou a precariedade com que estruturamos nossa sociedade, e chacoalhou violentamente nossas idéias. No processo de re-sedimentação intelectual, aflora a compreensão de que o arranjo social e econômico, antes de estar em pé de igualdade, se subjuga às condições ambientais sobre as quais se estrutura e é tanto mais sustentável quanto mais se sintonizar e promover a integridade planetária; que já acena com um novo lampejo no horizonte.

 

 Lara Lutzenberger

Outubro de 2005 

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